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ESG: o que a sua empresa tem a ver com isso?

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É bem provável que você tenha ouvido falar em ESG nos últimos tempos e que, talvez, tenha ficado com a impressão de que esse assunto é algo muito complexo e difícil de implantar, principalmente nas pequenas e médias empresas brasileiras. Mas, afinal, você sabe o que é ESG? É algo para empresas gigantes, com metas mirabolantes e relatórios complexos de sustentabilidade? Como ficam as empresas menores, sem tanta estrutura e recursos financeiros? Será que você dá conta de colocar em prática políticas voltadas ao ESG na sua empresa?

Bom, o primeiro passo para saber como a sua empresa está em relação ao ESG é descomplicar essa sigla, que pode ser traduzida para “Ambiental, Social e Governança”ou, simplesmente, ASG, em português, como prefiro me referir no dia a dia (e neste artigo daqui em diante). O termo – vindo do inglês Environmental, Social and Governance – foi incorporado recentemente ao vocabulário de grandes executivos e investidores brasileiros para definir algo que a gente já vem discutindo há muitos anos em todo o mundo: o desenvolvimento sustentável. Além do mercado financeiro, que passou a exigir que as empresas comprovem suas práticas ASG, outra força que tem impulsionado a conversa em torno do assunto são os próprios consumidores, cada vez mais propensos a buscar marcas que tragam para os negócios mais consciência social e ambiental na hora de tomarem suas decisões de compra.

Então, vamos à sopa de letrinhas. No eixo Ambiental, são medidas ações como a emissão de gases poluentes, uso da água, eficiência energética, gestão de resíduos sólidos, entre outras questões. Já no Social, são avaliadas as relações da empresa com seus colaboradores, clientes, fornecedores, parceiros e comunidade (engajamento e rotatividade da equipe; salários e benefícios compatíveis, desenvolvimento profissional; rede de fornecedores responsáveis ambiental e socialmente, impacto na comunidade local etc.). Por último, a Governança Corporativa, talvez o termo menos conhecido, se refere às relações entre os gestores e os stakeholders da empresa (transparência em relação às informações, práticas contábeis e controle das transações, por exemplo). E o que é preciso para ser uma dessas empresas com as melhores práticas ASG? Como empresas menores e com menos disponibilidade de recursos podem começar a promover um impacto positivo para o mundo por meio das suas ações e gerar valor positivo aos negócios?

Pode parecer assustador à primeira vista – e diria que é um pouco mais trabalhoso, sim, pensar o impacto que o seu negócio traz para a sociedade do que olhar apenas para o lucro –, mas também pode ser mais acessível do que parece e, ao gerar valor para o negócio com mais consistência a longo prazo, gerará diferencial competitivo. E é bem possível que a sua empresa já adote algumas dessas práticas ASG, mesmo que você ainda não tenha se dado conta. Por exemplo, olhe para os seus processos de trabalho, tendo em vista o conceito dos três “Rs” da sustentabilidade: o que é possível reduzir para gerar menos resíduo e/ou mais eficiência no processo de trabalho e operação (dá para eliminar desperdícios de materiais ou revisar processos de trabalho ultrapassados e morosos para que fiquem mais eficientes)?; o que pode ser reutilizado (quais são os novos usos que os mesmos materiais podem ter)?; e, por último, o que pode ser reciclado (é possível comprar materiais ou embalagens, por exemplo, que tenham maior potencial de serem reutilizados ou reciclados? Ou, é possível inovar em materiais e embalagens na utilização de reciclados?). Lembre-se sempre de que o que para sua empresa é resíduo pode ser matéria-prima para outros negócios, e vice-versa. Esse olhar poderá ser muito potente para o desenvolvimento de uma nova rede de parceiros que, ao colaborarem, geram valor e impacto positivo (o que cada vez mais terá diferenciação estratégica), além de retorno financeiro. 

No campo social, é importante que seus colaboradores consigam enxergar e perceber que há espaço para participar ativamente dos projetos de responsabilidade e cidadania que acontecem no dia a dia do seu negócio (e, caso ainda não aconteçam, os colaboradores podem ser impulsionadores de iniciativas de impacto social, gerando mais senso de pertencimento, podendo reduzir turnover e melhorar o processo de recrutamento e seleção)  e que se sintam estimulados a se engajar e participar (um bom exemplo pode ser um grupo de aprendizado sobre diversidade que possa se apoiar para começar a desenvolver processos de trabalho mais inclusivos). O mais importante é que seus colaboradores percebam que existe coerência entre o discurso e a prática. Quando você tem uma liderança e um time mais próximos e participativos, mantém salários e benefícios adequados e em dia, promove um ambiente fértil ao aprimoramento pessoal e profissional contínuo, gerando o sentimento de pertencimento, você está gerando um espaço saudável de trabalho e está causando impacto social. Isso também é ASG. 

A questão é que a gente costuma fragmentar esses temas, quando, na verdade, tudo está interligado. Antes de mais nada, pensar a sustentabilidade, mais do que estar por dentro do significado das siglas que vão surgindo é compreender que o planeta Terra é um grande sistema complexo e, por isso, todas as decisões e ações que empreendemos no dia a dia afeta o todo. Por isso, agir de maneira sustentável na vida pessoal e  profissional se torna uma questão moral, individual e ética, porque envolve o coletivo e o ecossistema

Então, a proposta de realizar um exercício e anotar quais práticas a sua empresa adota e em que pontos ela pode melhorar do ponto de vista do ASG pode ser um primeiro passo importante para a construção de um negócio cada vez mais longevo, consistente e contemporâneo, pois ele passa a estar contextualizado às demandas sociais e ambientais de seu tempo. Algumas perguntas simples podem ajudar no início desta jornada de transformação. Comecemos pelo básico: Qual é a remuneração dos seus colaboradores? Os pagamentos são pontuais? Você consegue criar um ambiente favorável ao desenvolvimento pessoal e profissional? Do ponto de vista de governança: A sua conta pessoal está separada da conta da empresa? Isto é, ainda existe confusão entre a personalidade física do sócio e a personalidade jurídica do negócio? Você mantém o registro contábil em dia? Em relação ao tema do meio ambiente: Dentro da atividade que você exerce, o que é possível reduzir, reutilizar ou reciclar?  

Cada vez mais, as pessoas estão exigindo das empresas um compromisso com a sociedade e com o meio-ambiente, porque entende-se que produtos e serviços de qualidade são condição para permanecer competitivo no mercado já há bastante tempo. Mas, para além de uma exigência cada vez mais relevante dos consumidores, para continuar existindo nessa era, olhar para o negócio pela lupa do ASG é uma oportunidade para as empresas ajudarem a moldar o futuro, por meio de uma economia mais justa, que se preocupa com seu impacto, trazendo resultados econômicos associados e distribuindo valor. E, não importa o tamanho da empresa, todos nós precisamos nos sentir convocados e responsáveis em fazer parte dessa transformação, que viabilizará um futuro para as próximas gerações.

Conheça o autor…

Written by Manuella Curti

Formada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e pós-graduada em Administração de Empresas pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER). Desde 2011, no cargo de diretora geral do Grupo Europa, Conselheira do CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), da SDW for All (startup de impacto social brasileira que desenvolve tecnologias de acesso a água) e Palestrante.

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