Um dos meus filósofos prediletos chama-se Gibran Khalil Gibran, e, caso você vasculhe meus textos, certamente encontrará alguma citação dele no meio de minhas reflexões. A sensibilidade, sabedoria e estética dos textos de Gibran encontrou seu ápice n’O Profeta, um poema filosófico clássico, que, desde o inicio do século passado, toca almas ao redor do globo. Um dos ensinamentos ali contido é sobre a alegria e a tristeza. É de tal sublimidade que transcrevo todo o poema:
“E depois uma mulher disse: Fala-nos da Alegria e da Tristeza.
E ele respondeu:
A vossa alegria é a vossa tristeza mascarada.
E o mesmo poço de onde sai o vosso riso esteve muitas vezes cheio de lágrimas.
E como poderá ser de outra maneira?
Quanto mais fundo a tristeza entrar no vosso ser, maior é a alegria que podereis conter.
A taça que contém o vosso vinho não é a mesma que foi feita no forno do oleiro?
E a lira que vos apanigua o espírito não é da mesma madeira com que foram esculpidas as facas?
Quando estiverdes alegres, olhai bem dentro do vosso coração e descobrireis que só aquele que vos deu tristezas vos dá também alegrias.
Quando estiverdes tristes, olhai novamente para dentro do vosso coração e vereis que na verdade estais a chorar por aquilo que foi a vossa alegria.
Alguns de vós dizeis, “A alegria é maior que a tristeza” e outros dirão “Não, a tristeza é maior”.
Mas eu vos digo que são inseparáveis.
Juntas vêm, e, quando uma se senta junto de vós lembrai-vos que a outra está a dormir na vossa cama.
Na verdade, estais suspensos como balanças entre a vossa tristeza e a vossa alegria.
Só quando vos esvaziais ficais em equilíbrio e imóveis.
Quando o guardador de tesouros vos erguer para pesar o seu ouro e a sua prata, nem a vossa alegria nem a vossa tristeza se devem alterar.”
A sabedoria contida nestas palavras vão de encontro com o que nos tem sido ensinado sobre a felicidade. Costumamos confundir felicidade com alegria, e Khalil Gibran é bastante duro, apesar de poético, para demonstrar que “a sua alegria é sua tristeza mascarada”.
Esse ensinamento é bastante adequado para aquelas investidoras que pretendem investir em bolsa de valores. A sensação ao estar investindo em renda variável é um belo simulacro, com efeito quase que palpável diariamente, desta gangorra entre a alegria e tristeza que é a vida de muitos nós. Talvez por isso que a bolsa seja tão popular para investidoras de mercados avançados, e tão atrativa para nos, ainda iniciantes.
Dias, meses, trimestres e anos são alegres, enquanto quase a mesma proporção é triste. O tamanho da alegria é proporcional ao poço que a tristeza cavou, portanto, quanto mais queda sua carteira diversificada teve, maior será a subida no momento 2. E vice-versa.
Mas então qual é a graça? A graça é você não ancorar sua alegria no quanto subiu ou sua tristeza no quanto caiu a bolsa. Não é isso que te fará bem sucedido no longo prazo. O que te fará bem sucedido na empreitada é você entender que ali – na bolsa – há uma rentabilidade justa a ser esperada, que você deve confiar nas empresas que está investindo, e que o verdade foco em seus negócios, sua familia e sua saúde (financeira, física, emocional, espiritual etc) te trará a melhor equação de valor.
Simplifique. Um pais como o Brasil crescerá ao ano entre 2% e 3%, com uma inflação de 3 a 5%. Sabendo que há empresas boas e ruins, vamos assumir que as boas performarão 3% a 4% a mais que a média, portanto:
Crescimento: 2% ~ 3%
Inflação: 3% ~ 5%
Produtividade: 3% ~ 4%
Rentabilidade 8% ~ 12% ao ano.
É isso que você encontrará na bolsa ao longo da sua vida. Segundo Benjamin Graham – autor do investidor inteligente – buscar mais que isso é possível, mas a chance de você colocar tudo a perder é muito maior do que a de você conseguir um pouquinho mais.
Esvazie-se da expectativa irreal, tenha boa assessoria e viva seu propósito.